2.10.15

// ARTISTA MÊS OUTUBRO: JOÃO PIRES //





Outubro é mês de Outono, de cores quentes com frio lá fora e de castanhas.

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Se no mês passado tivemos a mais nova artista do mês até à data, este mês temos o mais velho. 
O artista do mês que vos trago é uma pessoa muito especial, que muitos de vocês certamente reconhecerão - ou pelo menos já ouviram falar - mas hoje trago-vos uma versão diferente (e bem mais interessante) do que a que certamente conhecem. O meu artista de Outubro é o João Sousa Pires.

Bem-vindo Outubro, e Bem-vindo  JOÃO PIRES  !


Conheci o Pires em trabalho, em 2013, quando fiz parte da equipa de produção do teatro do Balas e Bolinhos, e rapidamente nos tornámos bons amigos e é uma pessoa que eu admiro muito, porque é diferente de todas as outras que eu já conheci até hoje. O Pires não vive em Portugal, mas é frequente falarmos "digitalmente" e por isso às vezes nem me lembro que ele está "lá para cima". Eu riu-me muito com o Pires porque ele gosta de coisas totalmente diferentes das minhas, digo-lhe (com carinho) muitas vezes que ele "parou no tempo" quando me fala dos filmes europeus que viu (que remetem quase aos primórdios da existência da sétima arte) ou me fala de autores desconhecidos, mas mesmo assim existe ali uma ponte, para além destes interesses, que nos liga de alguma forma.. não vos sei dizer o que é, mas para mim não interessa que sejam os interesses cinematográficos ou a filosofia de vida, o que realmente interessa é que me é um amigo muito querido, com quem é sempre um prazer falar.

[ uma pequena nota: para os que reconhecem o Pires, vão ver que, depois desta entrevista e do que vos trago, vão conhecer um João Pires muito mais complexo e interessante do que aquele que têm em mente. Abram os vossos corações, este é o verdadeiro João Pires. ]

Numa altura em que o facebook é preenchido de mensagens humanitárias e solidárias, de visões sobre o Mundo de hoje em dia e as pessoas que o preenchem, estes mimos não podiam ser mais actuais e conscientes do que nos rodeia. Palavras como "Paz", "Corpo", Mundo", "Homens", "Todos" são a essência destes mimos.

Para já deixo-vos com com a entrevista:


Conta-nos, quem é o João Pires? Assim um pequenino resumo do teu background, como chegaste até aqui?


Eu não sou ninguém! Sou tudo e não sou nada. Oficialmente sou geógrafo e pós-graduado em Gestão de Riscos Naturais, pelo menos é isso que dizem os dois diplomas que tenho em casa a acumular pó. E, por outro lado, enquanto ser humano criador sou fotógrafo porque fotografo, sou escritor porque escrevo, actor porque represento, músico, pintor e por aí fora. Comecei a sentir um impulso forte para a criação lá para os 17 ou 18 anos. Sentia que me fartava facilmente de tudo o que consumia, da imagem, da música e tudo o mais, levando-me assim a criar o meu próprio ambiente, por vezes a minha própria realidade. Eu gosto sempre mais do que observo e experimento do que daquilo que crio, mas isso não é em mim impeditivo de continuar a criar e a tentar trazer algo ao mundo ainda que por vezes para consumo pessoal apenas. E este impulso é em mim transversal a tudo o que me rodeia, na arte e noutros âmbitos também. Tanto gosto de criar as músicas que ouço como de cozer o pão que como. Assim como de revelar rolos fotográficos e por aí.







Como é que começa o teu dia? Tens alguma rotina?



Rotina? Não. Ou pelo menos não faço nada por isso. Tento evitar ao máximo a rotina, fico assustado com essa ideia. Acredito que a rotina é capaz de eliminar totalmente a capacidade de inovação das pessoas. Viver num mundo de rotina (ou de rotinas) quebra a capacidade das pessoas de trazer algo de novo à vida. É um enorme pesadelo para mim a ideia de me levantar todos os dias à mesma hora da manhã para ir beber o mesmo café (que até nem gosto) de sempre, ao mesmo local, pela mesma chávena. Isso assusta-me. Eu percebo que a rotina possa trazer alguma confiança às pessoas, que possa trazer aquele sentimento de controlo sobre o espaço e talvez isso seja um reflexo dos nossos dias. Mas como eu me sinto mais dependente da criatividade que da segurança, isso leva-me a ser um adepto da não-rotina. Acho inclusivamente que a não-rotina é uma aliada da inspiração. O inesperado tem um forte impacto nas pessoas, ajuda-as a crescer, já a rotina é uma pedra no sapato da produção.


O que não pode faltar no teu espaço de trabalho?

Independentemente do local onde estou (não só onde trabalho), há algo que nunca pode lá faltar: livros. A minha casa está completamente forrada de livros. Livros que percorrem todas as áreas que possas imaginar. E comigo andam sempre livros, blocos de apontamento, canetas que escrevam a preto e uma máquina fotográfica. Tudo o resto são acessórios, alguns deles bem-vindos. Um chá e um computador, por exemplo, não sendo indispensáveis são bem-vindos.









Tu não és fotógrafo de profissão, no entanto é um hobbie que te ocupa e enche o coração. Como é que a fotografia surgiu na tua vida?

Não é apenas um hobbie, vou fazendo por aí alguns trabalhos. Ainda há pouco tempo fotografei um casamento, vê lá! A fotografia esteve sempre presente na minha vida, desde que na minha infância passava horas e olhar para retratos de familiares, alguns deles já mais parecidos com cartões castanhos vazios que com fotografias. Mais tarde – e naquela perspectiva de ter, fazer, criar os meus próprios elementos – comprei uma máquina muito velha por cerca de 10 euros em Yerevan, na Arménia, uma Zorki 10 (uma máquina excelente que ainda uso!) com a qual passei a fotografar tudo o que via. A partir daí a minha paixão pela fotografia não parou de crescer, assim como a minha colecção de máquinas!




O que é que a fotografia significa para ti?

Muito. Olhar para uma fotografia é olhar para o cérebro de uma pessoa. É quase como olhar para o interior de alguém, é mais do que olhar para uma composição impressa num papel ou num ecrã de um computador. O conteúdo, a forma escolhida para a captura, a opção por este ou por aquele objecto fotográfico, são tudo decisões de uma pessoa. Observar o resultado é deixar que os nossos olhos nos ajudem a conhecer melhor o próximo. É usar os olhos de uma outra pessoa como se fossem os nossos.









O que é que te inspira? De onde vêm as tuas inspirações?

Tudo e de todo o lado. E tento ter sempre presente a consciência disso mesmo. Ainda há pouco li um artigo sobre a criatividade, como tudo o que fazemos é uma réplica de algo que foi já iniciado algures e por alguém. A criação sem inspiração é um sonho impossível. Assim, deixo-me influenciar por tudo e mais alguma coisa, indo assim buscar inspiração a pequenos detalhes, momentos que me atraem e que misturo com algo que desconheço ainda: aquilo que eu sou. Uma música, uma imagem, um filme, um livro, tudo isso são fontes inesgotáveis de inspiração que me apanham sempre em momentos distintos, misturando-se comigo e criando resultados diversos a cada contacto.



O que é que mais gostas de fotografar? Que estilo de fotografia é que te cativa mais?

Eu gosto de fotografar tudo. Tenho algumas preferências, claro, como a captura partilhada de um momento, uma fotografia de algo vivo e dinâmico é-me mais interessante que uma realidade estática. Gosto de capturar memórias que possam ser assim perpetuadas, agregando a essas capturas um ou mais sentimentos perpetuando-os igualmente. Gosto da ideia de fisicamente capturar um momento vivido e potencialmente desinteressante numa fotografia, que mais tarde se revela como único registo de um período vivido por alguém nalgum local, sendo assim esse artefacto (a fotografia) não só um catalisador de emoções, como ele próprio o elemento mais importante que resta de um instante perdido no tempo.








Também és um cinéfilo. Quando vês filmes dás mais importância à fotografia do que ao resto?

Não. Eu vejo o cinema como uma arte completamente independente de qualquer outra, não consigo separar a fotografia de tudo o resto presente num filme. Não me parece, por exemplo, que a fotografia de um filme como o “Il Deserto Roso”, do Antonioni, pudesse ser aquilo que é sem todo o ambiente criado pelo realizador nesta obra. No “Stalker”, do Tarkovsky, a mesma coisa. Um filme bem feito é muito mais do que a soma das partes, sendo a fotografia apenas uma dessas partes. Experimenta visualizar o “La Jetée”, do Chris Marker, sem a narração. É uma experiência completamente distinta.



Consideras-te um "Homem analógico a viver num mundo digital"?

Não sei. Creio que não. Não me parece que o digital tenha vindo substituir o analógico. O digital ocupou sim algum do espaço preenchido anteriormente pelo analógico por falta de soluções práticas, viáveis e económicas para uma necessidade actual. Fotografar com uma máquina digital nos dias de hoje é incomparavelmente mais barato, isto se te dedicares a disparar o gatilho da dita sem qualquer preocupação, ou se tens como objectivo a selfie para o Facebook. Aí sim, voto no digital. Agora, se queres investir num mínimo de qualidade, precisas de pelo menos €800 para uma máquina digital decente ou, por outro lado, de uns €20 para uma excelente opção analógica em segunda mão já com lente Industar incluída! Além do preço há que ponderar também a qualidade. É uma questão de objectivos e de, como disse, preenchimento de necessidades. Hoje talvez não faça sentido gastar um rolo de €5 para fazer um “biquinho” para a lente quando há por aí muitos telemóveis capazes de realizar a tarefa sem esse encargo. Assim como – na minha opinião – também não é muito lógico pixelar uma imagem que queremos próxima o mais possível da realidade e da nossa percepção quando existem negativos para o efeito. Quando fotografamos de forma “analógica” estamos a usar a luz que foi reflectida por um objecto ou uma pessoa para a imprimir num negativo. Usamos depois luz para ampliar aquela representação de um pedaço de realidade e a imprimir num papel da dimensão escolhida. Agora, com uma máquina digital estamos a modificar totalmente a realidade observada, comprimindo-a imediatamente no momento da captura para zeros e uns. São coisas muito diferentes.







Qual é a tua grande ambição na vida?

Particular? Não tenho. Sinto que tenho grandes ambições colectivas, partilhadas por todos nós enquanto seres humanos, fraternos, perdidos no universo. Individualmente acho que não tenho ambição nenhuma. Ter ambições implica ter alguns conhecimentos que eu não tenho. Eu não tenho respostas a questões fundamentais do Homem, não sei de onde viemos, para onde vamos, o que estamos aqui a fazer, e por isso não posso ter grandes ambições numa vida de sentido ambíguo. Penso que sou uma pessoa de processos e, por isso, distante de objectivos e de pontos de chegada.

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Sem mais demoras, os maravilhosos mimos do JOÃO PIRES:








#1 - "Todos Homens" (cores frias)
#2 - "Fragmentos do corpo" (cores quentes)



1 mimo do artista do mês - 6 
Pack artista do mês [conjunto dos 2 cadernos] - 10 
[ valor de portes de envio para Portugal incluído ]

Como sempre e em todos os modelos de mimos, podem personalizar a frase/texto sem qualquer custo adicional!


3, 2, 1:

Já podem começar a encomendar estes mimos tão especiais!
 Já sabem, é só enviar email para blog.thempire@gmail.com, com o mimo que querem e a frase para colocar na caixinha de texto.


Um especial abraço de obrigada ao Pires, por nos presentear com esta entrevista e com estes mimos. É um prazer enorme partilhar este espaço contigo!


Outubro é mês de aquecermos o coração e a alma. 
Por estes lados vai ser um mês de muito trabalho, a começar a preparar a época natalícia do Blog. Espero que o vosso mês seja igualmente preenchido de coisas que vos dão prazer e vos enchem e aquecem a alma!

Contem-nos tudo o que acharam aqui ou no facebook, eu e o Pires queremos saber as vossas opiniões.

Um maravilhoso fim-de-semana,
e voltamos em Novembro!
lots of love,
The M Pire




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